O tratamento de dentes cariados de crianças é uma discussão sempre recorrente na odontopediatria, afinal há inúmeras minúcias que circunda o atendimento de crianças e que não estão presentes ao atender adultos, como: a falta de entendimento de dor, uma interação diferente com o profissional de odontologia, além da questão de um dente de leite. Pensando nisso, a Profa. Dra. Daniela Prócida Raggio, do Departamento de Ortodontia e Odontopediatria, vem desenvolvendo um estudo de comparativo de custo benefício entre o Tratamento Restaurador Atraumático (ART) e a Hall Technique (HT) no manejo de lesões de cáries de molares, aplicada no ambiente escolar.
A Hall Technique é uma técnica recente, desenvolvida por uma cirurgiã-dentista do Reino Unido e que ainda está tomando forma no Brasil, sendo usada pelos brasileiro faz 20 anos. O diferencial é que a HT é uma técnica não invasiva, evitando injeções e perfurações, sendo teoricamente indolor e rápida, com uma primeira consulta para aplicação de elástico separador e um retorno para a cimentação da coroa de aço, resolvendo a problemática da cárie.
A análise do uso da HT ou de ART deve ser feito considerando inúmeros fatores, e cabe ao profissional de odontologia estar preparado para ter capacidade de avaliar qual a melhor técnica para cada um de seus pacientes: “primeiramente é importante pontuar que a HT é funcional apenas para dentes de leite, em segundo levar em consideração que a taxa de sucesso da Hall é de 95% aproximadamente. Entretanto, é necessário também ponderar outros parâmetros como a percepção das crianças em relação à qualidade de vida relacionada à saúde bucal (QVRSB) e o custo-efetividade de ambos os tratamentos”, detalhou a professora da FOUSP.
Um ponto de extrema relevância, considerando o contexto Brasil, é o fato da Hall ser mais cara que o ART. Isto deve-se ao fato de que as coroas de aço necessárias no tratamento serem todas importadas de países como o Estados Unidos, não tendo produção nacional, fato que encare. “O importante é que agora nós temos mais uma técnica, sendo mais uma opção para o dentista colocar em análise, para ver o que melhor atende ao paciente. Por isso, cabe ao cirurgião-dentista ser capaz de avaliar toda a situação, algo fundamental dentro da odontologia como um todo”, disse a docente.
Outro artigo de comparação é a questão entre público e privado, há diferença entre oferecer um tipo de tratamento no consultório particular e instalar como dinâmica de aplicação no Sistema Único de Saúde (SUS). Segunda a professora do Departamento de Ortodontia e Odontopediatria: “há uma curva de aprendizado em qualquer técnica nova da odontologia, sendo necessário o treinamento dos profissionais do SUS. Por isso, mais uma vez, é necessário uma avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde bucal e do custo-efetividade. Afinal, nunca é válido refazer o tratamento, o custo fica mais caro para o Estado, por isso o profissional deve ser capaz de avaliar cada caso, em contrapartida sendo função da prefeitura oferecer toda estrutura para este profissional faça tal análise”.
Texto: Gabriel Cillo